sexta-feira, 31 de maio de 2013

COMO É POSSÍVEL RECUPERAR UM RIO POLUÍDO?

Por Rodrigo Ratier

Bastam três ações: coletar, afastar e tratar os esgotos antes de lançá-los no rio. 

A receita é simples, mas a maioria dos países não consegue aplicá-la.

Um relatório da Comissão Mundial de Águas, entidade internacional ligada à ONU, aponta que entre os 500 maiores rios do mundo, mais da metade enfrenta sérios problemas de poluição.

No Brasil, o triste exemplo é o Tietê, seguramente um dos rios mais poluídos do planeta.

Quando passa pela região metropolitana de São Paulo, ele recebe quase 400 toneladas de esgoto por dia e é considerado morto: só sobrevivem no seu leito organismos que não precisam de oxigênio, como certos tipos de bactérias e fungos.

A principal causa da poluição é o esgoto doméstico.

"Quase 5 milhões de pessoas ainda têm seus detritos lançados diretamente no rio", afirma o engenheiro Lineu José Bassoi, da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo de São Paulo.

Quando se sonha com a despoluição do Tietê, é inevitável lembrar do Tâmisa, na Inglaterra.

A história do rio mais sujo da Europa no século XIX começou a mudar na década de 60, quando um sistema de estações de tratamento removeu quase 100% dos esgotos lançados no rio, que hoje tem peixes vivendo em toda a sua extensão.

O caso paulista é mais complicado.

Primeiro porque o Tâmisa recebia menos esgoto e tem vazão maior que o Tietê, diluindo melhor a sujeira.

Segundo porque os encanamentos brasileiros utilizam o sistema de separador absoluto: a água da chuva recolhida pelos bueiros corre em uma tubulação (galeria pluvial) e o esgoto em outra.

Na Inglaterra, os dois sistemas se misturam e seguem juntos para a estação de tratamento.

"No Brasil, só o esgoto é filtrado.

A galeria pluvial, que vai direto para o rio, possui um número imenso de ligações de esgoto clandestinas", diz o engenheiro Antonio Marsiglia Netto, da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

Uma das soluções para controlar essa sujeira seria instalar estações de tratamento dentro do próprio rio.

Outra ação essencial é aumentar a quantidade de esgoto tratado, que hoje está em 64% na região metropolitana de São Paulo - tarefas que levarão pelo menos mais 20 anos.

Operação de guerra

Trabalho de limpeza do rio Tietê, em São Paulo, tem várias frentes de ação

A origem do problema 

O Tietê sofre a ação de três tipos de poluição:

a industrial,

a difusa (formada pelo lixo de casas e das ruas levado pela chuva)

e a do esgoto doméstico, a mais prejudicial de todas.

Barras de proteção 

Parte do encanamento da rede de esgotos conta com grades para tentar barrar o lixo sólido que vai para o rio.

Entre os dejetos presos nas tubulações, os técnicos da Cetesb já encontraram até um Fusca

Câmera espiã 

Para identificar ligações de esgoto clandestinas nas galerias de águas pluviais (que recolhem a água da chuva), uma minicâmera passeia pela tubulação.

A cada ano, são descobertas 70 mil ligações irregulares!

Oxigênio em dose extra

Uma das melhores opções para remover a sujeira que cai no rio é a chamada estação de flotação.

No fundo do rio, uma rede de tubos injeta microbolhas de oxigênio que fazem a sujeira boiar, facilitando sua retirada.

Uma usina experimental de flotação, montada no rio Pinheiros (que joga água no Tietê), deve entrar em operação nos próximos dois meses

Rebaixamento do leito

O aprofundamento de 2,5 metros da calha do Tietê, aumentando sua profundidade, visa evitar enchentes.

Mas um fluxo de água maior também ajuda na despoluição.

Além de areia e terra, as dragas já retiraram mais de 85 mil pneus do fundo do rio!

Filtragem limitada 

Cerca de dois terços do esgoto da Grande São Paulo passam por uma das cinco estações de tratamento da região antes de chegar ao rio.

A água que sai daqui para o Tietê é água de reuso - serve para irrigação e indústrias, mas não é potável

Modernização industrial

Mercúrio, zinco, chumbo e outros metais pesados ainda aparecem no Tietê, mas em concentrações muito menores que em 1992, quando começou o trabalho de despoluição.

Hoje, 90% das 1 250 indústrias poluentes têm algum tipo de tratamento próprio para seu esgoto químico

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